Dualismo na vida – Parte I
Well, e a tal quinta-feira do show da BBC? Eu ia encontrar o Rique no hostel. Eu saí calmamente do curso. Fui andando pelas ruas numa felicidade que só. Parecia que cada lugar, cada esquina, cada prédio, lembrava uma cena, um momento super feliz.
Eu estava com aquela sensação de agradecer o quanto eu era uma pessoa feliz. Lembrei de cenas anteriores da viagem, lembrei das cenas surreais nos clubs, lembrei do casal maluco-beleza, lembrei até do guardinha separando eu e meu amigo, dizendo que aquilo não podia ali não... A gente provocando depois...
O dia que encontrei a Tábata do nada. O dia que errei o sentido no underground. O dia que fui parar, sem querer, na zona 4, com o cartão da zona 2... O dia que eu estava pensando na “morte da bezerra”, naturalmente feliz, e só me toquei duas estações depois da minha (é a “minha cara” inclusive...).
O cara que queria jantar comigo e eu disse que só se eu o encontrasse novamente ao acaso e ele veio com o papo da distribuição populacional de London... O cara que me flagrou cantando, logo afirmou que eu era carioca (mesmo cantando em inglês) e falou que tinha morado no Brasil (hehehe)... Guess where???
A menina portuguesa que estava lendo um guia em português, no underground, quando eu falei com ela, ficou toda feliz e me pediu informações. Os diversos amanheceres felizes. As noites sem fim...
Eu estava assim “só sorrisos”, sentada no banco do underground, quando entrou uma mulher. Devia ter pouco mais de trinta anos.
Chamou a minha atenção porque era uma típica inglesa, só que estava rindo à toa, sorriso de orelha a orelha. Lembro de ter pensado que deveria ser algum vírus contagiante...
Ela chegava a falar sozinha, baixo, distribuindo sorrisos ao vento, olhando pro teto... Achei assim, como posso dizer, uma cena memorável. Como que não se contendo, ela virou pra mim e começou a sorrir.
Reparei que ela carregava algo nas mãos, achei que fosse um bilhete, uma carta, sei lá. Reparei bem e só então entendi; era uma ultra-sonografia.
Como que, num estalo, ela olhando pra mim, eu perguntei se era dela. Ela disse que sim e então começamos a conversar. Era o primeiro filho e ela tinha acabado de sair do consultório médico. Ia dar a notícia ainda.
E ficava olhando a ultra, felicidade à flor da pele. Daqueles instantes únicos na vida. Mais uma vez fiquei feliz por estar compartilhando, indiretamente, desse momento tão importante na vida de alguém.
Subi as escadas pra sair em City, sorrindo, e fiquei passeando por ali, como no primeiro dia. Depois, como o Rique não aparecia, fui pro hostel.
Euzinha