Jornada para Recife - 2003
“50 reais no olho do c..”, “povo entra no ônibus, então se enche de emoção e lá vai pro banheiro”... “Passa a viagem, pés inchados e a comida de festa de final de ano começa a fazer efeito... povo enche a pança, castanha, besteiras e é só banheiro, só dramin”, “ih, esta daí tá mudando de volta, tá levando a casa inteira, isso rende!!!”...
Com 'pérolas' como esta estava começando minha peregrinação. 40 horas rumo a Recife. Não houve noites pouco dormidas que tenham me feito apagar no ônibus e era só o começo.
O início da novela foi colocar as malas e “mudanças” pra dentro. Histórias aqui e ali. Uma senhora contou que alguém pedira pra ela guardar umas malas no aeroporto e, depois de alguns minutos, ela fugiu: “sei lá, podia ser qualquer coisa, maconha, estas coisas de toxixico”; “ih, tem outros que vão ao banheiro e largam as crianças. Daqui a pouco, crianças perdidas”; “ih, lá vai vovó chorando” – afirmou uma outra senhora enquanto um ônibus finalmente partia no caos da Rodoviária Novo Rio.
“R$400,00 de excesso de bagagem, que absurdo! Estão metendo a mão só porque é Natal. Não paguei isto antes”. Ao que a famosa senhora retrucou, baixinho: “R$400,00 de mudança de volta pra Recife tá bastante barato, isto aqui não é caminhão não... meu Deus, tem até cachorro...não falei que estão levando a casa inteira...”. Felizmente o cachorro ficou...
Papo vai, papo vem. Companheiro de cadeira simpático; Rodrigo. Falava mais do que eu. Pasmem... Apelidou a “tripulação” de “leva geriátrica”.
3 horas depois lá íamos nós no que viria a se transformar numa verdadeira excursão...
“Eu paguei R$240.00, por este preço, quero cobertor”. Não tinha. Saudade do Golden Bus para Sampa. Não fosse a camisa do Rodrigo, eu iria ter “problemas causados pelo frio”...gangrena, formigamento (...risos...).
Nessa brincadeira, o ônibus botou o pé na estrada, a gente estava “no lucro”. Tanto tempo para sair que estava todo mundo cansado antes de começar a jornada...
Uma parada e o neto da “senhora” pergunta se eu e meu companheiro de cadeira somos irmãos. Pronto, ganhei mais um parente. “Não, por quê?”... “Nossa, como vocês falam! -retrucou o rapazinho - cheio de anéis nos dedos e com a unha do mindinho grande.
“Tira uma curiosidade: por que ‘vocês’ deixam esta unha grande? – perguntou Rodrigo. “Porque eu gosto, ora”. Ah, claro...
Impressão de que o ônibus passa mais tempo parando do que andando. Eu e Rodrigo, sem sono, cantarolando. Músicas de todos os gostos. Quando chegam as músicas de capoeira, alguém pergunta se é macumba. Descobrimos então que era uma tripulação geriátrica e evangélica...
Canta, canta...Nada do tempo passar. Fala, fala, voz começa a sumir e nada. Felizmente um sono safado se rende lá pelas tantas. Eu e Rodrigo quietos para felicidade da “tripulação”...
Euzinha
1 Comments:
Tripulacao evangelica, ai jesus! De qualquer modo o relato esta hiper engracado. Eu tenho uma amiga geografa que viaja de onibus o Brasil inteiro, diz que geografo deve viajar assim, que e' o melhor modo de ver as coisas, as pessoas...Conte mais, seus textos estao cada vez melhores.
O q vc me conta?
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