Duas Primaveras

Você já pensou que, enquanto o sol brilha aqui, no outro lado do mundo já é noite? Já viajou e chegou na mesma hora que você saiu? Pois é. Tudo é uma questão de referencial. E de cultura! E quando se "viaja", pode-se mudar tudo; variar de parâmetros, personagens, sem compromissos!!! Eu vivi, feliz, duas primaveras... No Brasil e na Europa... Aqui vão estas e muitas outras. E que seja assim sempre: várias primaveras de mim mesma!!!

8.10.06

Ekka

Nas semanas que antecederam o Ekka, eu já estava fora de circulação, trabalhando que nem cachorra, como se diz no Brasil... Posso dizer que estava aproveitando até o último segundo do meu holiday para tentar economizar para uma futura viagem. Ah, sim, claro, o que é o Ekka, esqueci de dizer... Ekka é um grande festival aqui, que ocorre em Valley, na verdade em Bowen Hills. E é grande mesmo. Imagina um grande festival, maior que o Rio Centro, no Rio. Com stands de comida, brinquedos, parque de diversões, estádio com diversos eventos e campeonatos, atrações especiais para crianças, diversos shows etc. Muito, mas muito grande. Eu mesma não vi nem um décimo, o máximo que eu vi foi bem perto de onde estava trabalhando no Woolworths Pavilion, close to the gate 1, the main entrance. Tem inclusive um feriado, Ekka's day, para celebrar Queensland, algo assim.

Eu achei que iria trabalhar, como em qualquer outro dia, muito, mas tranquilo, sem muitas responsabilidades. Cheguei lá, no primeiro dia oficial do evento, fui alocada no Woolworths, perguntei quem era meu supervisor e descobri que eu era a supervisora, enquanto a chefona me dava um rádio, um monte de chaves e de informação. "what?", foi minha reação... Como assim supervisora.... Como assim eu vou ter que ficar com esse rádio.... As duas semanas que seguiram foram um loucura. Não vi meus amigos, não visitei G no hospital, praticamente saía do Ekka, ia para casa e dormia, para acordar de novo as seis da matina.

Por um lado, foi divertido. Conheci um bando de gente, fui convidada para conhecer algumas fábricas de alguns expositores - e eu vou, se eu arrumar tempo-, vi alguns shows super interessantes, apresentações de corais, além de comer que nem uma condenada. Todo dia a gente ganhava um monte de coisas. Calamaris, iogurte grego, queijo francês, chilli, entre mil outras coisas. E minha mãe preocupada se eu estava comendo... Mandei até foto com essas guloseimas... Tinha mesmo que ter mandado foto no dia em que eu ganhei mais de 40 caixas de donuts... Tinha que ver, dei donut para todo mundo e inclusive fiquei com donut congelado na geladeira várias semanas...

Normalmente, no meu break, eu estava tão cansada, que só caminhava até o outro pavilhão. Um dia, assisti a um campeonato de motocross no estádio. Mas, normalmente, ia para sala da empresa, onde eu podia fumar, porque é proibido fumar em público com o uniforme da empresa... Estranhas frescuras daqui... Também passei vários breaks com minha amiga Kim, australiana, que trabalhava no Lost and Found. Aliás, engraçado a quantidade de coisa que a galera perde. De tudo... Teve carteira devolvida com dinheiro, vários celulares. Eu mesma entreguei uma pulseira de ouro. E eles vão procurar mesmo; um dia apareceu uma mulher procurando um par de meias... Achei que eu tinha entendido errado, mas não... Como alguém perde um par de meias??? Melhor nem saber.....risos....

E o que era aquele rádio....o dia inteirinho ouvindo o bafafá em inglês... E o pior que algum engraçadinho descobriu nossa frequência e às vezes eu estava resolvendo algum problema perto de um expositor e começava a tocar uma música, um hino no rádio... Eu não sabia onde enfiar minha cara... Juro que aquele rádio me dava dor de cabeça. No final do dia, eu continuava ouvindo as frases "Did U copy that", do it, do that... Não sei o quê não está funcionando não sei onde, água vazando do palco, alguém que vomitou na praça de alimentação, banheiro sem água, bla bla blá.... Eu quase fiquei louca...rs..... Ah, claro, e quando eu não entendia alguma coisa, era hilário.

A minha equipe variou. Tive dois brasileiros trabalhando comigo, um deles, terrível. Sempre lerdando e não fazia nada do que pedia, eu queria "matá-lo" nas primeiras duas horas. O outro era uma figura, já trabalhei com ele depois em outro evento. Tudo que eu pedia a ele, ele falava "tranquilo, facinho". E estava sempre de bom humor também, uma figuraça. Já chegou falando: "pô, tu é brasileira, pode falar português comigo". Eu ri. Ele perguntou: "caramba, quanto tempo está aqui?". Eu respondi pouco mais de cinco meses - na época- e ele ficou estupefato porque eu já era supervisora. Eu nem disse a ele que só trabalhava na empresa há pouco mais de dois meses...

Tive também dois australianos, entre eles, Daniel, o que era engraçado, porque era Dani, Dani...rs.... E a espanhola e o francês, o que me fez pelo menos arriscar as outras duas línguas com eles ao longo do evento, pobre de minha mente.... O francês era também muito divertido, resmungava à beça e ficava todo feliz quando eu pegava algum produto para ele, como leite, doce, algo assim.

O fechamento do Ekka também foi muito legal. Como todos os dias, teve uma queima de fogos, mas super especial. Vários minutos de um espetáculo de fogo no céu. Muito interessante. Eles se amarram num fireworks here.... Eu me lembro que peguei um táxi para ir para casa, tal era o cansaço e a quantidade de coisas que eu estava carregando: macarrão, leite, caixa de vinho, chilli, vege chips - um biscoito daqui, sanduíches, caixa de café etc. Assisti à queima de fogos e ia para casa, quando o E, o poderoso chefão cujo codinome era Ekka no festival, chamou-me para ir beber com o pessoal. Fiquei na dúvida, estava exausta e tinha combinado de encontrar P and K. Já ia saindo à francesa, quando S, a minha chefe, arrastou-me para o bar. Foi bom. Os grandes chefões estupefatos, para variar, descobrindo que eu bebia cerveja e fumava e pagando várias cervejas para mim...

Ao final do Ekka, dim dim na conta, mil bolhas no pé, mão com tendinite, sem voz, armário cheio de comida que eu ganhei, o corpo moído e o horário complemente louco.... Feliz, claro.... Como um expositor duvidou, ainda com o sorriso no rosto.... No primeiro dia, ele elogiou meu sorriso, meu bom-humor e duvidou que eu estivesse com o mesmo humor e sorriso ao final. Perdeu a aposta.... Metade do meu corpo estava lá ao final, mas ainda com o sorriso e a alegria.....